quarta-feira, novembro 19, 2014

AméricaNuMinuto - Dias e dias no Texas (16 Novembro 2014)

Durante a noite atravessamos 3 estados do sul, Alabama, Mississipi e Luisiana. Tive a sorte de acordar minutos antes de cruzar o Rio Mississipi, o maior dos EUA, que no estado do Luisiana tem quase 1 km de largura. Drena as vertentes este das Montanhas Rochosas e as vertentes oeste das Montanhas Apalaches. Transforma todo o centro americano como o estado do Kansas e Oklaoma (muito planos) no celeiro da américa, milho, milho e mais milho.

O sul é visivelmente mais pobre que o nordeste e que o pacifico. Razões culturais, segregacionistas, falta de competitividade das economias e sociedades pouco atractivas, acentuam a fuga de "criadores de ciência" para zonas mais atractivas e financeiramente mais vantajosas. Isso cria um ciclo vicioso do qual o sul tem enorme dificuldade em escapar.
Naquela manha depois deste mergulhar numa América diferente, entrei num outro mundo aparte, o Texas. O maior estado dos EUA (depois do Alasca). No sul pastagens e fazendas ferteis, assim como uma forte presença petrolifera, fazem de Dallas uma das cidades mais pujantes do país. Juntamente com Austin, S. António e Huston, formam um pais dentro de um pais com uma economia muito pujante, baseada na exploração dos recursos naturais. Por outro lado o norte que cruzamos, foi uma experiência diferente. Amplas áreas, poços de extracção de petróleo, como robôs antigos espalhados n planície, povoações que crescem como armadilhas par os que atravessem a estradas em direcção a oeste, e nos apanham enganados em cadeias de fast food de qualidade duvidosa. Aqui e ali, uma sucata, e mais à frente, armazém e vedações de coisa nenhuma. 
A meio do dia veio a neve expectável com uma frente fria de norte, e como fazíamos uma estrada secundária, os limpa neves tardaram e atrasaram um par de horas a nossa chegada a Albuquerque no Novo México. Apresentava-se já no meio das Rochosas entre dois pequenos maciços, o Rio Grande cruza a cidade e mais a sul divido o pais do México. Adormeci num hotel de beira de estrada, a esperar que o Canyon viesse até mim e que não espera-se que fosse eu chegar. A chegada a Flagstaff no Arizona base para as expedições no GC tardava e atravessar o pais com poucas horas de sono e fast food, tornava a experiência ainda mais exótica.

Ao som de Black Keys - Tem Cent Pistol

segunda-feira, novembro 17, 2014

AméricaNuMinuto - Get Lucky in the Talloola Gorge (15 Novembro 2014)

AméricaNuMinuto - Get Lucky in the Talloola Gorge (15 Novembro 2014)


Levantamos bem cedo. Saimos de Clemson (South Carolina) em direcção a oeste para mais um encontro com as Apalaches. Conhecida como a grande cadeia de montanhas do Este americano, atrai imensos visitantes das zonas costeiras mais populadas, pela sua "Pisgah National Forest" e pelo seu "Great Smoky Montains National Park", onde a beleza das misturas de arvores de folha caduca e perene são a grande atração no início do Outono.
"O rio do sol do meio dia", Talloola na linguagem Cherokee, permaneceu durante muitos anos (depois da febre da construção das barragens) com acesso vedado aos canoistas, particularmente o seu troço com mais pendente (logo depois das conhecidas Talloola Falls) pois raramente tinha caudal. A American Witewater Association, (associação que faz lobying junto dos políticos em Washinton para que os rios com barragens ou outro tipo de restrições às águas bravas, se tornem acessiveis ao canoistas), meados da década de 90, conseguiram negociar a libertação de água da barragem 5 fins de semana por ano, e assim dar vida ao pequeno troço. Hoje sem restrições de número de canoistas, este percurso teve outrora uma limitação de 100 canoistas por dia. Durante a viagem de aproximação, sorrio com as histórias do Morais. Fala-me que foi um dos primeiros a descer o rio, no segundo fim de semana de largadas de àgua em Novembro de 1996. Combinou com os amigos, bebeu umas jolas no pub universitário em Clemson (onde frequentava o doutoramento) e foi, pouco passava da meia noite, para o parque onde era suposto inscrever-se no próximo dia de manhã para a descida. Curioso, procurou dar uma olhada nocturna no percurso, e só ouvia um som violento de cascatas. Falou-me que adormeceu com pesadelos (as cascatas eram passos não navegaveis, apenas para fotografia de turista, o percurso de águas bravas começaria abaixo). Na manhã seguinte teria atrás de si duas centenas de canoistas, que tinham madrugado para tentarem a sua sorte. Contou-me que fez amizade com a malta do clube local que estava na organização e controlo das entradas, e que durante o primeiro ano era responsavel por deixar os primeiros socorros em locais estratégicos na primeira descida e recolher na última do dia. "Era um afortunado, remava o Talloola 2 vezes por dia !!!". O rio dívide os estados da Carolina do Norte e da Georgia, e termina numa barragem que tem um braço longo, entra Carolina do Norte dentro, até um pequeno cais. Não há  forma de sair do rio, ou na barragem ou neste pequeno cais.  Nesses tempo aconteciam coisas caricatas, um rio novo era como ouro. Houve um canoista que n foi autorizado a entrar na água pois no dia já excedia o numero máximo estipulado de 100 vistos. Fez vista grossa, e desautorizou. Entrou na água. Nos EAU levam a desobediência civíl muito a sério. Os elementos do clube tinham chamado a polícia que estava à sua espera no final na barragem. Optou por remar 2 horas até ao cais na Carolina do Norte, mas, assim que chegou deparou-se com o Ranger do parque que o advertiu " If you get out here you will respond for trans-federal desobedience !!" (A gravidade de um delito é agravada se o autor fugir de um estado para outro), toca de remar mais 2 horas de regresso ao final da barragem, sair à meia noite e passar a madrugada na esquadra da policia. Febres de canoista e americanices.
Quanto à nossa descida em si, as imagens falam por mim. O Canhão e o Taylor completaram o team com um raft a flutuar em rampas de granito.
Levantamos ancora de Atlanta (Gorgia) eram 8 da noite, onde comemos num pub com 30 ecrãs gigantes a passar vários jogos de futebol americano, servidos por mulheres com decote e mini-saia, estilo "chearleader. 2000 milhas pela frente até ao Arizona.

Ao som de Heroin - The Velvet Underground and Nico

AméricaNuMinuto - Chattoga River (14 Novembro - 2014)

Há medida que os dias passam, vou acumulando colesterol. O Duarte conseguiu-me convencer que a fast-unhealthy-food, era um preconceito que tinha em relação à América. Este estado de espirito durou apenas a noite depois da viagem de avião. Durante os dias seguintes deu-nos um periplo da comida do sudeste, em versão "fat". Galinha frita panada, pão de milho e trigo frito, batatas fritas, feijões fritos, e sauduiches de carnes fumada com geleia de frutos silvertres, algo muito popular na Carolina do Norte e do Sul. Temos regado as frituras com a enorme variedade de cervejas locais, mercado muito difundido no estado.

Depois de termos passado um noite agradavel ao som da música local, o Bluegrass, a abandonamos Asheville manha cedo e direcção sudueste fomos conhecer o Chattooga, linguagem Cherokee "rio das pedras". O rio encaixa num vale típico das Apalaches, com as arvores de folha caduca e perene a darem um pouco da sua vida ao granito escuro. 
O Seth juntou-se a nós final do dia. Fizemos serão regados a tradicionais cervejas em casa do Taylor (que descerá um rafting de apoio no Grand), e ocupamos o seu chao da sala. No "second check" o material demonstrou estar ok, especialmente o colchão de ar, que tinha revelado problemas na ultima expedição. Dormi. Amanha haveria mais galinha frita ao pequeno almoço.

Ao som de Lebanese Blonde - Thievery Corporation


Divagando por Raleigh, North Carolina (13 Novembro 2014)

Acordei depois de 25 horas seguidas em transito sem dormir. A casa de madeira do "filosofo do outdoor" amigo Duarte Morais pareceu-me extraordinariamente acolhedora, havia carpetes de Arroiolos e aguarelas de Sintra espalhadas pelo quarto. Um café à americana longo, ovos, "ham", panquecas e banho tomado. Depois de arrancarmos o Canhão do computador, fizemos um périplo pela parte exterior da cidade. Pouco densa em termos de concentração habitacional, espraia-se na horizontal e alberga 1 milhão de habitantes na sua zona metropolitana. O Duarte diz-nos que a economia assenta na tecnologia (IBM e CISCO) e na farmacêutica (Pfizer), o que dá aos habitantes da zona um nível de vida acima da média nacional. 
Quatro voltas aos arredores no Toyota 4x4 V6 do local, algumas compras de ultima hora, e uma permanente entrada na retina de árvores de folha caduca. Nesta altura do ano aquela que é considerada a cidade americana com mais área verde enche-se de cores outonais. E as folhas caíram durante todo o dia. 
O Duarte Morais radicado há alguns anos nos EUA, lecciona cadeiras na área do turismo na universidade de Raleigh. Admirou-o porque tem um pensamento bastante vivo, criativo e fala com uma enorme paixão sobre as ideias que traça para o que considera ser um turismo sustentável. Considero-o um pequeno grande génio do turismo de outdoor, e apesar de falar de Portugal com nostalgia sabe que o país de origem é muito pequeno para as suas ambições de puro pensador. Conheceu a Susane, natural da Florida aquando da sua primeira bolsa de estudo e assim ficaram, têm dois pequenos, Jenna e Marcos e uma cadela Retrivier de Labrador, Maya, que sendo surda de nascença, lê os lábios de forma excepcional.
No final do dia brindou-nos a companhia da sogra que depois da reforma se mudou da Florida um pouco mais para Norte e está agora 2 quarteirões abaixo, o mais próximo que pode dos netos.
" … não é costume este tipo de alimentação, mas visto que é o primeiro dia nos EUA, quero brindar-te com um clássico, "fried chicken" e pizza, acompanhados por uma cerveja sem álcool destilada de uma raiz de árvor das Montanhas Apalaches "

Rumo ao Oeste, partimos para 4 horas de estrada. Esta noite ficaremos em Asheville no coração das Apalaches, regados a cerveja. Amanhã conhecerei o Chatugga River.

O som de Spinning Away - Eno/Cale

AméricaNuMinuto - O que há a contar de um dia passado em aviões e aeroportos ? (12 Novembro 2014)

O Sá Carneiro é sempre um aeroporto bem airoso, especialmente nas chegadas, poucas vezes nas partidas, especialmente as das 5 da manha.

A Ibéria no Porto-Madrid permitiu-me dois copos de vinho La Rioja, mesmo assim não provoquei desacatos.
Em Madrid Barajas, confundiram o Canhão com um Colombiano suspeito, revistam tudo, nem o gorro de pele de coelho escapou.
Desde a minha viagem ao Chile em Janeiro de 2009 que já n me lembrava o "quão agradavel" é viajar 8 horas de empreitada, não havendo muita simpatia das hospedeiras da Ibéria, bem se esforçam, e alimentam-nos a toda a hora, a falsa pressão do ar incha-nos ainda mais, e a minha falta de paciência é apenas interrompida pelas passeatas pelos corredores que aliviam não sei bem o quê.
Os terminais do aeroporto JFK em Nova Iorke, estão ligados por uma espécie de metro de superfície, ficamos ali a dar 3 voltas aos terminais sem debandar, a aproveitar o magnífico por do sol.
Perdemos 100 dollars por cada 1000 euros de cambio, deixamos os trocas de moeda para a última, e, catrapimba, os "amaricanos" sabem-na toda.
A primeira refeição em solo Americano foi ... sushi e comida chinesa, provavelmente será o mais light de todas as refeições da expedition.
O voo para Raleigh (lembro, ler "rally") correu sem sobressaltos, e com um sentimento de relaxamento por parte do pessoal de cabine que n sento nos voos internacionais e europeus. Sentou-se a meu lado uma americana giríssima, que se transformou em ogre quando adormeceu, abriu bem a boca e babou-se toda. 
Recebeu-nos em Raleigh Duarte Morais, o ilustre, e em sua casa além de outras coisas interessantes, deu-nos água a beber em frascos de compota vazios. Um eco-casual-pretencious-chique que nos fez sorrir. Welcome !

Ao som de Alentejo, Alentejo - António Pinho Vargas

AméricaNuMinuto - Fim de semana "Largo Espectro" (8,9 de Novembro 2014)

Tentaria fazer um apagão nos preparativos e disfrutar do fim de semana. Sábado sentei-me e senti-me inspirado pela palestra do Pascal Magne no congresso da Ordem, revi amigos, amigas e outras colegas de saias curtas, bonitas e sorridentes gentes tem esta profissão. Quase 25 anos de profissão e criação, e uma paixão inabalavel na comunicação. Inspirado por um dos mestres mundiais da arte de aderir.

Domingo vesti o blazer e a gravata das águas bravas e mergulhei vale do Beça adentro. Para além do Brandão e do Mendes, revi o amigo Zé Azevedo, que continua a mostrar como se faz no seu barco "old school". Regamos o encontro com tinto verde e bacalhau com batatas a murro no Luis do Outeirinho, talvez o melhor da região a ser ir este prato. Agora que escrevo à distancia sobre os pré dias da viagem, e revejo o dia do bacalhau, falta-me um pouco de comida não alinhada, saudades da "portuguese slow food".
Houve ainda tempo para selecionar os raquíticos 23 kg da bagagem de porão, estendidos em cima da mesa de cozinha. Olhavam-me em negação. Todo o material desejava não ser comprimido, mas te e que ser. Não esquecer creme para mãos e pés, o Colorado, é conhecido por (com a associção de frio e água por vezes barrenta) secar mãos e peles e gretar os corpos. Dormi a sonhar com tele-transporte, 22 horas de viagem entre as quais 13 de avião n m arrancavam muitos sorrisos.

(ao som de john lee hooker - alberta)

AméricaNuMinuto - Cães (6 Novembro 2014)

A semana antes da partida foi bastante densa. Estiquei o meu "eu de profissão", e trabalhei intenso. Havia muito para fazer antes da partida. Um pouco a custo lá fui fazendo os treinos de "pseudo-cross-fit" gentilmente cedidos pelo "personal-friend-trainer", Ricardo Brandão. Dentro dos elementos vivos, mantenho contactos com todos como se não fosse sair durante um mês, o meu regresso estava já aí ao virar da esquina. Mas a atitude dos meus cães, que por não racionalizarem a minha momentânea ausência continuavam alegres, fez-me divagar, a tristeza n poderia ser um sentimento espontaneo. E a sua indução dependeria muito da percepção e racionalização da realidade. Algumas vezes desejei n racionalizar partidas, assim o fiz com o Camões e com o Shiva nos finais de tarde, semana antes.

Ao som de Mean Me Mustard - Beatles

quinta-feira, novembro 13, 2014

AméricaNuMinuto - Preambulo

Se houvesse em algum lugar um emprego de sonho, se é que ele possa existir, onde as rotações das tua motivação pudessem estar sempre bem altas, onde o simples facto de escrever sairia por prazer e houvesse um permanente orgulho na obra criada, onde pudesses saborear o que o mundo cria para ti e ao mesmo tempo a forma como o tu o pintas … esse tarefa, essa ocupação seria a de um "descritor" de sensações permanente.
Muitas vezes "enguiçado", destruo linhas de texto. São indignas, desarmoniosas, as palavras não flutuam. Por isso no momento em que estiverem a ler estas palavras, já estarei dentro de um avião a empurrar-me para a partilha escrita de uma experiência que espero reveladora … 30 dias de América do Norte !!


(Ao som de Filosofer Stone - Van Morrison)